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Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina (2João v. 10)


Comentário apologético: Não é provável que este versículo esteja proibindo os cristãos de receberem sectários em suas casas, quando a intenção for testemunhar para eles o evangelho Cristo. Antes, mais propriamente, o texto parece se referir à proibição de conceder ao sectário consecutivas oportunidades de ensinar sua falsa doutrina e, mesmo assim, sob um “pano de fundo” diferente dos nossos dias.

O contexto para esta interpretação pode ser vislumbrado nos primórdios do cristianismo, numa época em que não existiam igrejas centralizadas e acessíveis, nas quais todos os crentes pudessem congregar. Na realidade, o que existiam eram casas que funcionavam como pequenas igrejas que se espalhavam por toda a localidade em que o evangelho se estabelecia. Examinando o Novo Testamento, constatamos que, logo no início da Igreja, os cristãos eram vistos unidos, “partindo o pão de casa em casa” (At 2.46. Cf. tb. 5.42) e ajuntando-se para orar na casa de Maria, a mãe de João Marcos (At 12.12).

De fato, as igrejas primitivas freqüentemente se estabeleciam nas casas dos irmãos e este fator é primordial para entender o que o apóstolo João quis compartilhar quando escreveu sua segunda epístola. Veja alguns exemplos dessa ocorrência nas cartas de Paulo (Rm 16.5; 1Co 16.19; Cl 4.15). O emprego de templos eclesiásticos específicos não apareceu antes do final do século 2o. Assim, aparentemente, o apóstolo João está, na realidade, nos advertindo contra a aceitação de um falso mestre na igreja, concedendo-lhe o “púlpito” para ensinar. Olhando as coisas por este prisma, entendemos que a proibição visava a pureza doutrinária da Igreja. Estender tal hospitalidade a um falso mestre dava a entender que a Igreja estava aceitando ou aprovando seu ensino, o que certamente causaria grande confusão entre os fiéis. E isso deveria ser evitado, a qualquer custo.

Também é possível que João estivesse proibindo os cristãos de hospedarem falsos mestres em seus lares. Diante desta hipótese, é salutar lembrar que, nos dias em que a igreja apostólica estava em formação, o ministério pastoral e evangelístico era exercido principalmente por indivíduos que viajavam de lugar em lugar, de casa (igreja) em casa (igreja). Esses pastores itinerantes dependiam da hospitalidade das pessoas de uma congregação local. Por conseguinte, João estaria admoestando a Igreja a não estender esse tipo de hospitalidade aos falsos mestres. Logo, os cristãos não deveriam deixar que sectários ficassem em suas casas e as utilizassem como bases de suas operações para que pudessem difundir seu falso evangelho.

Em qualquer destes casos, o versículo em estudo não proíbe os cristãos de receberem um sectário em suas casas para propósitos evangelísticos. Da próxima vez que uma dupla de testemunhas-de-jeová ou mórmons bater à sua porta, sinta-se livre para convidá-la a ouvir o seu testemunho. Mas esteja totalmente seguro em relação aos fundamentos da sua fé, “para que não sejamos [...] levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” (Ef 4.14).

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