Religiões



Confucionismo - A religião ética de Confúcio, o mestre chinês


Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas (Mt 7.12)


O confucionismo é o principal sistema de pensamento chinês, tendo sido a doutrina oficial na China durante quase dois mil anos, do século II até o início do século XX. Esta religião se desenvolveu a partir dos ensinamentos de Confúcio (551-479 a.C.; grafia latina do nome Koung Fou Tseu, ou mestre Kung), que fundou esta norma religiosa por volta do século V a.C.

O confucionismo tem influenciado as atitudes dos chineses em relação à existência, fixando os modelos de vida, valores sociais e proporcionando a base das teorias políticas e instituições chinesas, sendo, portanto, uma religião com apelos essencialmente morais e sociais. Da China, o confucionismo se estendeu à Coréia do Sul, Japão, Vietnam, Cingapura e, nas últimas décadas, tem despertado o interesse de muitos eruditos do Ocidente.

O princípio básico do confucionismo é conhecido pelos chineses como junchaio (ensinamentos dos sábios) e define a busca de um caminho superior (tao) como forma de viver bem e em equilíbrio entre as vontades da terra e as do céu.


O cânon confucionista

Durante um período em que atuou como docente, Confúcio reuniu numa coleção escritos antigos, os quais editou, adicionando-lhes comentários. Distribuiu esses manuscritos em quatro livros, incluindo a estes um quinto volume, escrito de próprio punho.

Esta coleção alcançou renome entre os confucionistas sob o título "Os cinco clássicos". São eles: "o livro das mudanças - I Ching", utilizado como instrumento de arte divinatória; "o livro dos anais - Shu K´ing", que versa sobre os exemplos deixados pelos ancestrais, tidos como cruciais para a compreensão da mente de Confúcio; "o livro da poesia - Shih Ching", cujo conteúdo, poesias, segundo Confúcio, era capaz de colaborar com a construção de um caráter que formava homens virtuosos; "o livro das cerimônias - Li Chi", destinado ao homem superior, para ensiná-lo a agir de forma correta e com respeito às tradições, e os "os anais da primavera e do outono - Ch´um Ch´iu", que comenta os eventos ocorridos na província de Lu, contemporaneamente ao "mestre" Confúcio.


Pontos básicos da doutrina confucionista

No confucionismo não existe um deus criador do mundo, nem uma igreja organizada ou sacerdotes. O alicerce místico de sua doutrina é a busca do Tao, conceito herdado de pensadores religiosos anteriores a Confúcio. A base da felicidade dos seres humanos é a família e uma sociedade harmônica. A família e a sociedade devem ser regidas pelos mesmos princípios: os governantes precisam ter amor e autoridade como os pais; os súditos devem cultivar a reverência, a humildade e a obediência de filhos.

Confúcio pregava que o ser humano deveria cultuar seus antepassados já extintos, numa representação que se exigia do prolongamento do respeito que se tinha pelos pais ainda vivos. O homem, de acordo com esta doutrina, é composto por quatro dimensões: o eu, a comunidade, a natureza e o céu - fonte da auto-realização definitiva.

Pregava também o que considerava "as cinco virtudes essenciais do ser humano", as quais relacionou em amar o próximo, ser justo, comportar-se adequadamente, conscientizar-se da vontade do céu e cultivar a sabedoria e a sinceridade desinteressadas.

É possível traçar um sumário referente às doutrinas do confucionismo, que esteja preso aos seus termos-chave ou caminhos. Uma abordagem superficial sobre estes princípios é capaz de revelar a estrutura doutrinária básica da crença confucionista.

O primeiro deles é o Jen. Trata dos conceitos que abrangem a humanidade, a bondade e a complacência do homem para com o homem. Jen, neste aspecto, se constitui na regra maior; a norma que reflete a reciprocidade, ou seja, que exorta a não atingirmos alguém da forma como não gostaríamos de ser atingidos. Esta seria a virtude maior segundo o confucionismo, que compreende o exercício desta regra como antídoto para a guerra e a intolerância mundiais.

Outro princípio confucionista importante é o Chun-tzu. Este termo pode ser traduzido por "homem gentil" ou "homem em seu melhor aspecto". Os ensinamentos de Confúcio tinham por alvo o homem de virtudes, ao qual o mestre se referia em termos de que, aquele que pudesse por em prática as "cinco normas", seria digno de ser chamado "homem em seu melhor aspecto". Estas cinco normas são a humildade, magnanimidade, sinceridade, diligência e cortesia.

A humildade livra do escárnio; a magnanimidade atrai os semelhantes, a sinceridade desenvolve confiança entre os que o rodeiam e a cortesia o favorece diante de seus subalternos. O homem que baseia sua conduta nesses preceitos é aquele que pode mudar a sociedade.

Há ainda o Cheng-ming. É necessário segundo Confúcio, para que haja uma sociedade que habite na ordem, que cada integrante desse grupo desempenhe o papel que lhe cabe, para que, em conseqüência, um rei haja como um rei e um cavaleiro haja como cavaleiro.

A este respeito se estabeleceu uma discussão entre Confúcio e o duque Ching de Sh´i, que indagou-lhe sobre a questão do governo, obtendo como resposta: "Que o governante governe, que o cidadão ocupe seu espaço, que o filho seja filho e o pai seja pai". (Confúcio, 12.11; Os analectos). É do repertório temático de Confúcio, ainda a seguinte declaração: "Disse Tzu-lu: Se o senhor Wei deixasse a você a administração de seu estado, o que reputarei como maior em importância? Resposta do mestre: "Se algo tiver de ser posto em primeiro lugar, seria a retificação dos nomes". (Confúcio, 13.13; Os analectos).

O Te, termo que se traduz, literalmente, por "poder", mas seu conceito dentro confucionismo é bem mais amplo. Trata, por exemplo, do poder para governar. Esta expressão traduz muito mais do que mero poder físico e, talvez por isso, haja a necessidade de que os detentores deste poder sejam homens virtuosos (Chun-Tzu), com potencial para induzir seus súditos à obediência, por meio de um modelo irrepreensível de virtudes. Enquanto Confúcio atuava entre os homens, esse entendimento extraviou-se, posto que em sua época a força física era tida como a única forma eficaz de se ordenar a sociedade.

O Li, um dos vocábulos chave de Confúcio. Seu significado vai além de uma mera tradução específica e, cada uma de suas interpretações deve estar atrelada aos contextos de sua aplicação. Ele pode significar propriedade, reverência, cortesia, ritual ou padrão ideal de conduta.

No livro de cerimônias do confucionismo, o Li-Chi, discute-se o conceito sobre este vocábulo nos termos do diálogo entre Ai, o duque, e Confúcio: "Qual é o grande Li? [...] Por que você fala sobre o Li como se fosse algo importante?" Resposta: "Seu humilde servo não é capaz e nem digno de compreender o Li".

A partir daí prosseguiu Confúcio discorrendo sobre todo o seu aprendizado, esclarecendo que, aos seus olhos, de todas as coisas pelas quais as pessoas vivem, o Li é a maior. Sem ela não saberíamos como adorar devidamente os espíritos do universo, ou como especificar com exatidão qual seja a função que cabe ao monarca e seus ministros, ou como definir diferentes graus de relação em famílias, por isso que um Chun-Tzu ("homem gentil") dá tanto valor ao Li.

E, finalmente, o Wen, conceito que está ligado às artes pacíficas, aquelas às quais Confúcio dava tanto valor. Neste ramo se inclui a música, a poesia e demais modalidades artísticas típicas da cultura chinesa.

Confúcio condenava a cultura contemporânea, por acreditar que ela não trazia qualquer virtude inerente aos seus ensinamentos. Quanto a isso, declarava: "Por certo, quando alguém diz: os ritos, os ritos, não devem estar destacados apenas em presentes de jade ou de seda, da mesma forma que quando alguém diz: a música, a música, não pode estar presa ao pensamento de sinos e tambores...".

Dada esta verdade confucionista, presumia-se que aqueles que desprezassem as artes pacíficas estariam desprezando os caminhos virtuosos do homem e o próprio céu.


Ensinamentos de Confúcio

Nenhum dos escritos que compõem a relação a seguir contém os ensinamentos tipicamente confucianos, por isso optamos por não elencá-los no cânon da religião, entretanto, constituem uma antologia com base na qual Confúcio transmitiu seus preceitos na forma em que chegaram até nós.

"Os analectos", que formam a fonte mais importante desta crença, está composto de declarações tanto de Confúcio quanto de seus discípulos. "A grande erudição", que trata da educação e do treinamento que se aplica àquele cujo plano de vida almeja o título de "homem gentil". Esta obra, porém, não é atribuída ao fundador do confucionismo, o que se prova pelo fato de advir de um período posterior a sua existência (250 a.C.). "A doutrina da moderação", que se refere ao relacionamento existente entre a natureza humana e a ordem natural do universo, cuja escrituração não possui origem autoral específica. E o "O livro de Mêncio", que era um aplicado discípulo e propagador dos ensinamentos de Confúcio, e teria redigido este volume por volta do ano 300 a.C., colecionando ensinos da época confuciana e tentando acomodá-los de forma ordenada em sua publicação. Esse trabalho expõe uma visão idealista da vida, procurando ressaltar a bondade que, segundo Mêncio, é imprescindível à natureza humana.


O fundador

Os seus ensinamentos ainda estão em evidencia, milhões de pessoas os seguem fielmente, como norma e filosofia de vida. Na China, principalmente, é venerado acima de todos os seres da terra; em todas as cidades, por menores que sejam, há templos onde se lhe rende culto, geralmente em templos suntuosos, em paredes pintadas com a cor vermelha.

Filósofo, teórico social e fundador de um sistema ético (mais que religioso), Koung Fou Tseu (Confúcio) viveu na China feudal entre 551 e 479 a.C. Teria sido contemporâneo de Buda, muito embora a história não registre um encontro pessoal entre esses dois personagens, que existiram num período imediatamente anterior aos filósofos gregos Sócrates e Platão.

Suas origens foram muito humildes, porém, desde jovem demonstrou grande inclinação por livros antigos e, com o tempo, desempenhou alta posição como coletor de impostos do estado de Lu, atual província de Shang-Tsung, na China. Ainda neste período casou-se, mas foi um relacionamento de curta duração, culminando com divórcio. Esta rápida relação gerou um casal de filhos a Confúcio. Após meio século de vida foi promovido ao cargo de oficial no governo de Lu.

Os chineses reconheceram em Confúcio a amplitude e profundidade de sua sabedoria, o que o levou a ser conhecido como Kung, o sábio. Entretanto, todas essas honrarias não o impediu de se envolver em uma intriga política cuja conseqüência o obrigou a peregrinar treze anos de uma corte a outra, com o objetivo de persuadir os monarcas a adotarem suas idéias sobre a justiça e a convivência em harmonia. Decepcionado com os resultados, Confúcio acabou refugiando-se no ensino de seus ideais atraindo ao seu redor inúmeros discípulos, os quais foram os responsáveis por conservar seus ensinamentos até os dias de hoje.


I Ching

Trata-se de um livro de adivinhação que fora com posto sob os princípios da relação cambiante entre as forças do yin e do yang. Sua leitura depende da compreensão de oito triagramas e mais sessenta e quatro hexagramas de linhas unicamente quebradas ou não quebradas, as quais, para os seguidores originais, tinham um grande significado para aqueles que fossem capazes de desvendar a chave das mesmas. É bastante complexo e enigmático.

Grande parte da cultura chinesa, desde as ciências naturais até política, confia seus destino a esse livro. Investigam suas influências e as possíveis mudanças a que qualquer ser humano tem de enfrentar ao longo de sua vida. Não é raro ver em uma ou outra esquina da China algum adivinho se preparando para realizar uma leitura nestes escritos. Apesar de constar na abordagem desta disciplina a autoria do I Ching é conferida a Lao-Tsé (fundador do taoísmo) e não a Confúcio que, aliás, consultava com certa freqüência o referido livro. A obra continua assediada, pois ainda hoje, alguns políticos chineses não são capazes de tomar algumas decisões sem antes consultá-lo.

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