Ilustração



A morte e o lenhador



Marcos Mairton (da fábula de Esopo, recontada por La Fontaine)

Foi o francês La Fontaine

Quem, certa vez, me contou

A história de um homem

Que pela morte chamou,

Mas depois se arrependeu,

Quando ela apareceu

E perto dele chegou.

Era um velho lenhador

Que andava muito cansado

Do fardo que, até então,

Ele havia carregado.

Um fardo que parecia

Sempre e sempre, a cada dia,

Mais incômodo e pesado.

Estava velho e doente,

Sentia o corpo doído.

Maltratado pelo tempo,

Seu semblante era sofrido.

Seguia, assim, seu caminho,

Atormentado e sozinho,

Sempre sujo e mal vestido.

Certa vez, ao fim do dia,

Quando ia pela estrada,

Para a choupana que então

Lhe servia de morada,

Foi obrigado a parar

Um pouco pra descansar

Da extensa caminhada.

Trazia um feixe de lenha

Que foi buscar na floresta.

Largou a lenha no chão,

Passou a mão pela testa,

Maldizendo-se da sorte,

Pensou: – É melhor a morte,

Que uma vida que não presta.

– Não consigo carregar

Essa lenha tão pesada.

Já não tenho mais saúde,

Meu ganho não dá pra nada,

Perseguido por credores,

Meu corpo cheio de dores,

Ai que vida desgraçada!

– Ó, Morte, onde é que andas,

Que não ouve o meu lamento?

Que não vem pra me tirar

Desse brejo lamacento?

Dona Morte, eu te rogo,

Venha acabar, venha logo,

Com meu grande sofrimento!

Aí, ela apareceu,

Com sua foice na mão.

Aproximou-se do velho

E disse logo: – Pois não.

Estavas a me chamar?

Em que posso te ajudar,

Querido filho de Adão?

O velho sentiu um frio

Lhe correr pelo espinhaço,

Quando a voz rouca da morte

Ecoou naquele espaço.

E pensou, na mesma hora:

“O que é que eu faço agora?

E agora o que é que eu faço?”

Então disse: – Essa honra,

Não acredito que eu tenha,

Que atendendo meu chamado

A senhora aqui me venha.

Mas, se posso pedir tanto,

Me ajude, por enquanto,

A carregar essa lenha!

A morte saiu dali

Um tanto desapontada,

E o velho foi embora

Cantarolando na estrada,

Porque, “mesmo padecendo,

Melhor é seguir vivendo

Que morrer sem sofrer nada”.

É essa a moral da história

Que La Fontaine nos deu,

Nessa fábula que ele,

Entre muitas, escreveu.

Eu, apenas transformei

Em cordel e dediquei

A você, que agora leu.


Título: A morte e o lenhador. Autor da Fábula: Le Fontaine. Autor do Cordel “A morte e o lenhador”: Marcos Mairton. www.copeb.com.br

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