Ilustração



Não quero um deus que funcione!


Já decidi: não quero um deus que funcione segundo minhas expectativas.

Não quero um deus que funcione de acordo com minhas orações.

Não quero um deus que funcione de acordo com a minha noção de justiça.

Não quero um deus que funcione a partir das minhas chantagens religiosas e minha birra espiritual.

Não quero um deus que funcione na solução dos meus problemas, para me arranjar um emprego, para curar meu filho, para me ajudar a realizar meus sonhos.

Não quero um deus que funcione toda vez que me coloco para cultuá-lo e ouvir sua Palavra.

Não quero um deus que funcione à base da manivela da minha prática religiosa e de minha limitada piedade.

Não quero um deus que funcione para aliviar minha mente estressada e meu coração carregado dos cuidados deste mundo.

Não quero um deus que seja à minha imagem e semelhança.

Rejeito este relacionamento utilitário com Deus. De olhar para Ele como uma máquina de abençoar pessoas. Como essas máquinas de refrigerante que a gente encontra nas lojas de conveniência. Uma máquina que, para funcionar, precisa das moedas do dízimo e das ofertas, da oração, da leitura da Bíblia, do jejum, da participação regular nas atividades da igreja, do exercício constante e rígido para manter a santidade e não pecar, e assim por diante. Não quero um deus conveniente.

Rejeito esse evangelho que diz que Deus me abençoará apenas quando eu fizer determinadas coisas corretamente, que irá amar-me mais se eu tiver determinadas atitudes, que irá escolher-me para coisas importantes se meu coração estiver perfeito em sua presença.

Não quero um deus que funcione a partir de mim mesmo. Esse não é o deus verdadeiro, mas, sim, o resultado frágil do meu próprio egoísmo, que, lá no fundo, busca um deus que lhe sirva para todos os fins.

Não, não quero um deus para funcionar.

Hoje, eu quero um Deus para me relacionar, para conhecer na intimidade, para reconhecer sua soberania e submeter-me aos seus propósitos.

Quero um Deus para adorar, para amar, para me entregar, ainda que em minha vida as coisas não funcionem como eu gostaria.

Quero um Deus para crer e manter-me fiel, ainda que isso implique em permanecer enfermo, desempregado, ou viver outras circunstâncias contrárias.

Não estou procurando funcionalidade, mas relacionamento. Talvez, o mesmo relacionamento do filho pródigo com seu pai (Lc 15). Um relacionamento baseado na graça e no amor do Pai, o qual, em todo tempo, manteve aberta a porta do abraço e do beijo.

Quero ter com Deus o relacionamento de Arão, cujo privilégio foi ouvir do próprio Deus: "Na sua terra herança nenhuma terás, e no meio deles nenhuma porção terás: eu sou a tua porção e a tua herança no meio dos filhos de Israel" (Nm 18.20).

Já decidi: esse será o grande alvo da minha vida!


Por Luiz Henrique Solano Rossi

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