Apologética



Judaísmo – Parte 05 – Os dez mandamentos na perspectiva do povo judeu.


Os Dez Mandamentos constituem as leis fundamentais dos judeus, embora elas sejam muitas vezes vistas como princípios universais destinadas a criar e manter uma sociedade civilizada. Analisaremos a seguir os Dez Mandamentos na visão judaica.

1º a 2º Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra (Êxodo 20.3-4).

Sem imagens – O primeiro e o segundo mandamentos dizem que os judeus devem adorar o único Deus verdadeiro e que não devem adorar os ídolos ou reverenciar ídolos de outros povos. O verdadeiro Deus é por demais grandioso para caber em uma imagem; Ele só pode ser adorado em espírito e em verdade.

3º Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão (Êxodo 20.7).

Nome sagrado de Deus – O terceiro mandamento lembra aos judeus que Deus é por demais grandioso para que Seu nome seja pronunciado em vão. Por tradição, os judeus não usam jamais Seu nome, mas falam em Adonai (o Senhor) ou Hashem (O Nome).

4º Lembra-te do dia de sábado, para o santificar (Êxodo 20.8).

Sábado Santo – O quarto mandamento assevera que os judeus devem guardar o sábado como dia santo. Assim como Deus fez o sétimo dia de Sua criação, eles devem descansar após seis dias de trabalho.

5º Honra teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá (Êxodo 20.12).

Honrando os Pais. O quinto mandamento diz que os filhos devem honrar os pais. Em muitas sociedades, os pais dependem dos filhos na velhice e, assim como os filhos, quando jovens, dependem de seus pais.

6º Não matarás (Êxodo 20.13).

A vida é sagrada. O sexto mandamento diz que a vida humana deve ser respeitada e o assassinato é condenado. No entanto, há divergências dentro da comunidade judaica quanto à aplicação do mandamento a situações como a pena capital e o aborto.

7º Não adulterarás (Êxodo 20.14).

Respeito aos Laços Matrimoniais – O sétimo mandamento proíbe o adultério. O adultério (relação sexual fora do casamento) é muito mais condenável do que a fornicação (relação sexual antes do casamento). Isso porque, tradicionalmente, os judeus casam-se muito jovens e também porque o adultério pode suscitar a questão da legitimidade dos filhos.

8º Não Furtarás (Êxodo 20.15).

Preservando a Propriedade – Na interpretação dos rabinos, isso significa que qualquer tipo de roubo é condenado, inclusive o plágio, o roubo de idéias. Eram criados complicados sistemas de compensação, e o ladrão não podia ser perdoado até que tivesse recompensado a vítima.

9º Não dirás falso testemunho contra o teu próximo (Êxodo 20.16).

A Importância da Confiança. Em uma sociedade civilizada, os tribunais devem ser o começo do culto judaico.

Foi depois do retorno da Babilôma que começou a se desenvolver a religião a que costumamos chamar de judaísmo. O núcleo do judaísmo era a vida na sinagoga (a palavra grega para congregação ou assembléia, local de estudo). Este tipo de serviço religioso surgira por necessidade durante o exílio babilônico, uma vez que ali os judeus não tinham um templo onde orar.

O grande templo de Jerusalém, destruído durante a conquista babilônica de 587 a.C, foi reerguido em 516 a.C, sendo destruído posteriormente em 70 a.D.

10º – Não cobiçarás a casa de teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo (Êxodo 20.17).

Evitando Inveja e Ciúme – No décimo mandamento, Deus ordena a Seu povo que evite cobiçar os encantos da mulher do próximo.

5.1 – A TORÁ

Nenhuma palavra na religião judaica é tão indefinível e, ainda assim, tão indispensável quanto a palavra Torá. Ela tem sido, durante todas as épocas, a soma e a substância do estudo e da erudição judaicas.

Para que os judeus cresçam piedosos, considera-se essencial que saibam os 613 preceitos da Torá, a lei judaica que, segundo o livro do Êxodo, foi dada a Moisés por Deus. Desde tempos antigos, os judeus são notáveis por sua educação. Todos sabiam ler e escrever (pelo menos os homens), e o ensino começava cedo. Atualmente, a maioria dos jovens judeus não vai tão longe na educação religiosa, mas a tradição de respeito pelo aprendizado se mantém. A maioria dos judeus espera educar-se no mínimo até o nível superior.

São os pais que, principalmente, têm o dever de ensinar a Torah aos filhos. Todo Israel, tanto os ricos como os pobres, devia ocupar-se da Torah e estudá-la durante toda a vida. Para essa atividade, o dia privilegiado é o sábado.

A Torá é tradicionalmente escrita em pergaminhos que são mantidos na sinagoga em um móvel chamado Arca. Quando não estão em uso, os pergaminhos são enrolados e cobertos. Durante o serviço na sinagoga os pergaminhos da Torá são cerimoniosamente erguidos, e a congregação, em pé, declara: Esta é, pois, a lei que Moisés propôs aos filhos de Israel (Êxodo 4.44).

A Torá é composta pelos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis (Bereshith), Êxodo (Shemoth), Levítico (Wayyiqra), Números (Bemiddar), e Deuteronômio (Debarim).

Para o Cristianismo, a Torá desempenhou um importante papel. O próprio Jesus disse: Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir (Mateus 5.17). Este texto nos mostra que Cristo reinterpretou a lei radicalmente, a qual se cumpriu em sua própria pessoa. Esta interpretação foi seu ensino de que a mera observância externa não estava de acordo com o sentido real da lei. Deus tencionava que sua palavra fosse guardada no coração de seu povo. Jesus considerava a ira e o ódio atitudes tão pecaminosas quanto o homicídio (Mt 5.21), ou a concupiscência tão condenável quanto o adultério (Mt 5.27). Cristo classificou a Lei oral como tradição de homens (Mc 7.8-13). Os religiosos profissionais, tais como os escribas e fariseus, erigiram um muro ao redor da Torá, como os escribas, e fariseus, inacessível às pessoas comuns.

5.2 – A CABALA

A Cabala é o nome dado ao conhecimento judaico místico, originalmente transmitido de forma oral. O misticismo gnóstico já se fazia presente na Haggadah (livro que narra o Exodo e apresenta a ordem de Sêder – as bênçãos, símbolos, orações e principalmente a exposição rabínica do tema) (“Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia”; RN. Champlin, Ph.D – J.M. Bentes; Volume 3 – Editora Candeia, p. 615).

As pessoas buscavam a presença de Deus. Essa presença substituía toda a erudição e todo o esforço humanos. A alma humana entraria assim em harmonia a união com o Ser divino. As pessoas andavam atrás da perfeição, da santidade e da autopurificação, como maneiras de chegarem à presença de Deus. O instrumento usado para isso era a Cabala que, naturalmente, incorporava muitas idéias pagãs, no campo dos conceitos, como a adivinhação. A cabala era usada como a Bíblia do misticismo.

A especulação cabalística conheceu seu clímax nos séculos 16 e 17. Muitos estudiosos acreditavam estar vivendo os dias finais e saudaram a chegada do autoproclamado Messias, Shabbetazi Zevi. O mundo judaico vivia em estado de excitação, com sua chegada. Mas em 1666 ele foi decapitado pelos turcos ao lhe ser dada a escolha: a morte ou a conversão ao islã. Escolhendo o islã, caiu em desgraça.

Para isto nos serve a advertência do apóstolo Paulo em sua carta aos Colossenses: Tende cuidado, para que, ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo (Cl 2.8).

5.3 – TALMUDE

Além da Torá escrita, os judeus também tinham regras e mandamentos transmitidos oralmente. Segundo a tradição judaica, no monte Moisés recebeu não apenas a Lei Escrita de Deus, mas ainda a Lei Falada.

Depois que os judeus se dispersaram pelo mundo, decidiram registrar estes ensinamentos para que não se perdessem. Esse material se chama Talmude, a palavra hebraica que significa estudo. Ele contém regras, preceitos morais, comentários e opiniões legais, mas também histórias e lendas. É bem sabido que o Talmude não é, em si, um livro de ensinamentos, e sim um texto usado pelos rabinos para orientação dos fiéis em determinadas situações.

5.4 – O TABERNÁCULO

Deus deu instruções detalhadas para a construção do Tabernáculo ou tenda do Senhor (posteriormente o Templo).

Por todo o Antigo Testamento o derramamento de sangue para remissão de pecados era fundamental para aceitação diante de Deus (Lv 17.11). O capítulo seis de Levítico mostra detalhadamente a necessidade do sumo sacerdote de entrar nos Santos dos Santos uma vez por ano para oferecer uma oferta pelo seu próprio pecado. Depois, eram selecionados dois bodes. Fazia-se o sorteio, um seria separado como oferta e o outro como emissário. O significado do Tabernáculo continuou no Cristianismo, mas com uma importante diferença. A atividade do templo foi incorporada na pessoa de Jesus (Jo 2.18-21). O Livro de Hebreus apresenta uma extensa argumentação para que os judeus reconhecessem Cristo como o Sumo Sacerdote.

No momento da morte de Jesus, a cortina que separava o Santo dos Santos rasgou-se ao meio (Mt 27.51). Os cristãos interpretam este evento como uma demonstração de que, através de Cristo, o Santo dos Santos, acessível apenas ao sumo sacerdote uma vez por ano, não existe mais, o próprio Jesus tornou-se o Santo dos Santos e o acesso não é mais exclusivo dos judeus. A promessa de Deus a Abraão, de que em sua descendência todas as nações da Terra seriam benditas, agora se cumpre.

5.5 – CULTO JUDAICO

Foi depois do retorno à Babilônia que começou a se desenvolver a religião a que costumamos chamar de judaísmo. O núcleo do judaísmo era a vida na sinagoga.

Numa sinagoga não há imagens religiosas, nem objetos no altar, pois, como vimos, as imagens são proibidas (é o segundo mandamento). Desde os três anos de idade os judeus são incentivados a elevar orações a Deus.

No serviço da sinagoga, nas manhãs de sábado, há um grande cerimonial em torno da leitura da Torá. Ali se lê uma passagem do texto em hebraico. De modo que no período de um ano se lê toda a Torá.

Além da leitura da Torá, o serviço contém orações, salmos e bênçãos, todos reunidos num livro especial chamado Sidur. Outro foco importante é o credo, o Shemá.

Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças. E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando te e levantando te.

Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais da tua casa, e nas tuas casas (Dt 6.4 9). O sermão e o ensino da Lei são de responsabilidade dos rabinos, sempre homens instruídos e de alta escolaridade.

Os serviços da sinagoga podem ser realizados diariamente, três vezes por dia, contanto que dez homens estejam presentes. As mulheres não desempenham parte ativa no serviço e são segregadas nas congregações ortodoxas, ficando, em geral, numa galeria, com as crianças. Segundo o Talmude, o livro judaico de leis do século 6, essa separação remonta aos dias do Templo de Jerusalém e foi estimada porque se considera que as mulheres distraem os homens da oração.

Depois da destruição do templo de Jerusalém em 70 a.D, os sacrifícios rituais, que já não podiam mais ser realizados, foram substituídos pela prece matutina, vespertina e noturna. Estes refletem os dias dos sacrifícios no templo. O comparecimento às sinagogas é visto como meritório, e o serviço completo não pode se realizar sem um minyan (dez homens). Diz se que Deus fica irado se visita uma sinagoga e não vê um minyan.

A oração pode se dar em qualquer hora e lugar, mas por todo o mundo judaico a sinagoga tornou se o centro de estudo e do culto.

5.6 – OS TREZE ARTIGOS DA FÉ

Uma das grandes figuras da história judaica foi Moisés Maimônides, um judeu espanhol que viveu no século 12 a.D. Pensador sistemático, procurou condensar as crenças básicas do judaísmo, sob a forma do credo:

1 – A crença na existência de Deus.

2 – A crença na unicidade de Deus.

3 – A crença na incorporalidade de Deus.

4 – A crença na eternidade de Deus.

5 – A crença de que somente Deus deve ser adorado.

6 – A crença na profecia.

7 – A crença em Moisés como o maior dos profetas.

8 – A crença em que a Torá foi dada por Deus a Moisés.

9 – A crença em que a Torá é imutável.

10 – A crença na onisciência de Deus.

11 – A crença em que Deus recompensa e castiga.

12 – A crença na vinda do Messias.

13 – A crença na ressurreição dos mortos.

Ao fim da lista, Maimônides comenta:

Quando todos estes princípios tiverem sido seguramente adquiridos por convicção dos mesmos, bem estabelecido em um homem, ele entra para o corpo geral de Israel. E nós temos o dever de amá lo, cuidar dele e fazer por ele tudo que Deus ordenou fazer uns pelos outros em termos de afeição e simpatia fraternal. E isto, ainda que ele seja culpado de todas as transgressões possíveis, quer por causa do poder do desejo ou das paixões naturais. Ele será castigado segundo a medida de sua perversidade, mas terá um quinhão no mundo vindouro, mesmo que seja um dos transgressores de Israel. Quando, porém, um homem se ajusta de qualquer modo a um destes princípios fundamentais, então se diz que ele saiu do corpo geral de Israel e que nega a verdadeira raiz do judaísmo...(“Bem-vindo ao judaísmo” Maurice Lamn, Editora e Livraria Sêfer, 1a Edição, p. 265).

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