Verbo



Perspectiva bíblica sobre as heresias



Por Walter Martin

A era que presenciou o advento de Jesus Cristo foi uma época rica de religiões, que iam desde o animismo crasso e dos rituais sexuais adotados em grande parte do mundo até os panteões romanos, com seus deuses, e as misteriosas crenças dos gregos. Ao lermos a obra de Gibbon, “Declínio e queda do Império Romano”, veremos claramente a multiplicidade de deuses e deusas e os sistemas filosóficos que figuravam no horizonte religioso daquela era da história. O judaísmo cessara suas atividades missionárias, já que os judeus se achavam debaixo do tacão de ferro do paganismo romano que lhes era adverso. Seus escribas e rabinos haviam interpretado e reinterpretado tanto a lei de Deus e acrescentado a ela tantas emendas que Jesus chegou a dizer aos líderes religiosos de seus dias: “Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição?... E assim invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição” (Mt 15.3,6.)

E foi no meio desse torvelinho de filosofias humanas deterioradas e de revelação divina deturpada que apareceu o Filho de Deus e, com seus ensinamentos e exemplo, revelou o homem divino. E com seu poder miraculoso, sua morte vicária e sua ressurreição corpórea abriu um atalho no emaranhado de dúvidas e temores dos homens ao levantar-se da terra para atrair todos a si. Acertadamente, alguém já disse que o homem tem liberdade para aceitar ou rejeitar a Jesus Cristo, e a Bíblia como Palavra de Deus; tem , ainda, liberdade para opor-se a Ele e até para desafiá-lo. Mas não tem liberdade para alterar a mensagem essencial das Escrituras: a boa nova de que Deus ama os perdidos, e tal maneira que enviou ao mundo seu Filho unigênito para que todos pudéssemos viver por intermédio dele.

Juntamente com esse evangelho da graça de Deus, o Senhor anunciou e profetizou que seus seguidores enfrentariam provações e tribulações, tanto dentro como fora da igreja, e que uma das maiores dificuldades que teriam seria a presença dos falsos cristos e dos falsos profetas, que viriam em seu nome e enganariam a muitos (Mt 24.5). Jesus estava tão preocupado com essa questão que certa vez disse:


“Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizados em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt 7.15-23).


Cristo revelou que haveria falsos profetas. O filho de Deus não tinha dúvida de que isso ocorreria. E as heresias dos primeiros cinco séculos da era cristã comprovam a veracidade de suas predições. Cristo disse ainda que os frutos dos falsos profetas seriam visíveis e que a igreja iria identificá-los prontamente. Não nos esqueçamos de que os frutos de uma árvore má, além de éticos e morais, podem ser também doutrinários. Talvez uma pessoa possa ser até ética e moralmente correta, segundo os padrões humanos. Mas se der à costa a Jesus Cristo, rejeitando-o como Senhor e Salvador, o fruto dela será ruim, e deverá ser repudiado, pois não passa de um simulacro da verdade. O apóstolo João compreendeu bem isso quando disse: “Eles saíram de nosso meio, entretanto não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos” (1 Jo 2.19).

A Bíblia de fato fala de falsos cristos, de falsos profetas e de falsos apóstolos, bem como de “obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar; porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras” (2 Co 11.13-15).

Assim, a perspectiva bíblica, com relação a esses falsos profetas e seus falsos ensinos, é que devemos ter compaixão e amor por aqueles que foram envolvidos por esses falsos ensinos. Todavia, devemos nos opor vigorosamente às doutrinas que abraçaram, mas sempre com o supremo objetivo de ganhar a alma do indivíduo, e não de discutir com ele. Não devemos esquecer que os adeptos das seitas são almas pelas quais Jesus morreu, pois “ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 Jo 2.2).

Nosso propósito é despertar maior interesse entre o povo de Deus para esse importante campo missionário que são os adeptos de seitas, apontar as falhas de seus diversos sistemas doutrinários e fornecer recursos aos crentes para que saibam responder corretamente aos seguidores de seitas quando abordados por eles, além de lhes apresentar bases sólidas do evangelho de Cristo. Outro objetivo é deixar o leitor bem familiarizado com as restauradoras verdades do evangelho, para que ele possa enxergar a maravilhosa herança que temos na fé cristã e se sinta inspirado a viver para o Salvador e a testemunhar dele de modo eficaz.

A Associação de Bancos dos Estados Unidos utiliza, para treinamento de pessoal, um recurso que exemplifica bem o nosso objetivo. Todos os anos eles levam a Washington centenas de “caixas” para ensiná-los a identificar o dinheiro falso, que sempre acarreta enormes prejuízos para o tesouro do país. O mais interessante é que, nos quinze dias de duração do treinamento, nenhum dos “caixas” manuseia cédulas falsas; só lidam com notas verdadeiras. É que a direção da associação está convencida de que, se o funcionário estiver bem familiarizado com o dinheiro verdadeiro, identificará o falso assim que este lhe cair nas mãos, por mais perfeita que seja a falsificação.

A verdade é que, quando os cristãos se familiarizam com as doutrinas fundamentais da fé, saberão identificar facilmente os falsos ensinos que divergem dos do cristianismo bíblico.

As seitas têm lucrado muito com o fato de a igreja cristã não compreender bem os ensinos delas e não criar uma metodologia prática para evangelizar seus adeptos, refutando seus argumentos.

É verdade que a estrutura doutrinária de algumas seitas contém inúmeras verdades, todas elas, diga-se de passagem, retiradas de fontes bíblicas. Mas acham-se tão mescladas de erros humanos que acabam sendo mais mortíferas que uma mentira frontal. Além disso, algumas seitas têm dado ênfase a aspectos que a igreja tem ignorado, como, por exemplo, cura divina (Ciência Cristã), profecias (Testemunhas de Jeová e Mormonismo), entre outros.

Que a exortação do apóstolo João tenha efeito em nossas vidas: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 Jo 4.1).

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