Apologética



Flor de Lótus - Simples planta ou símbolo sagrado?



Por Antonio Senhorinho Monteiro

Lótus: planta aquática da família das ninfeáceas. Nativa do sudeste da Ásia, mormente no Ja-pão, Filipinas e Índia, é conhecida também por lótus-egípcio, lótus-sagrado ou lótus-da-índia. Possui flores brancas e, em geral, é cultivada para ornamentação. Foi empregada pelos antigos na fabricação de pão e de uma espécie de bebida. Segundo estudiosos, servia como alimento ao povo da Líbia. De acordo com algumas lendas gregas, seu suco teria a propriedade de gerar, nos estrangeiros, a vontade de permanecer na terra. Na África setentrional, existia um povo que se alimentava desta planta. No Brasil, é identificada como vitória-régia (também da família das ninfáceas), nativa das regiões ama-zonenses. Algumas espécies florescem na região do Mato Grosso e nas Guianas.


A origem do lótus


De grande apreço na Ásia, cultivada desde tempos remotos, a planta cobre as planícies alaga-das do oriente do Egito à China. É venerada em todo o mundo por milhões de pessoas que a conside-ram o símbolo máximo da pureza espiritual. Chegou ao ocidente no século IV, antes de Cristo. Pre-senteados pelos egípcios, os gregos foram os primeiros a conhecê-la. A flor espalhou-se pelo restante da Europa, onde foi apreciada por sua beleza, particularmente pelos pintores. A história conta que certos povos da América Central já a conheciam. Sacerdotes do México, por exemplo, embriagavam-se com o efeito alucinógeno produzido por seu extrato, e isso pouco antes de os primeiros espanhóis pisarem na América. No Brasil, o lótus foi trazido pelos japoneses, no século de XX.

Mas a fama da flor de lótus transcende o âmbito espiritual e seu fascínio atinge também os es-tudiosos de botânica. Há muito tempo que estes especialistas tentam desvendar alguns enigmas que a planta segreda. Pesquisadores da universidade de Adelaide, na Austrália, por exemplo, estudam uma estranha característica da flor: assim como os seres humanos, ela é capaz de manter sua temperatura em torno de 35 graus. Este sistema de auto-regulação de calor, compreensível em organismos com-plexos, como ocorre com os mamíferos, continua inexplicável para a ciência.

Ainda outros cientistas do instituto botânico da universidade de Bonn, na Alemanha, estudam outra curiosidade do lótus: suas folhas são autolimpantes, isto é, têm a propriedade de repelir micror-ganismos e poeiras. Devido a isto, consideram-na potencialmente útil para ser aplicada na limpeza doméstica e afins.

Apesar de sua beleza, de sua utilidade polivalente (especialmente na esfera medicinal), das curiosidades que suscita e das lendas que inspirou, indubitavelmente sua representatividade destaca-se no plano metafísico.


O mantra do lótus


É isto mesmo, o lótus possui um cântico sagrado!

Imagine a cena: a fumaça do incenso envolve como nuvem os monges budistas do templo Doi Suthep, construído no século XIV nos arredores da cidade de Ching Mai, norte da Tailândia. Como é corriqueiro, os monges, ao amanhecer, lavam as mãos nos botões rosados da flor de lótus, que espalha seu perfume suave no ar. Com vozes graves, os religiosos, ritualmente, começam a murmurar o mani padami, um dos principais mantras do budismo - originário do antigo idioma sânscrito. A frase exaustivamente repetida significa: "Ó jóia preciosa do lótus". Terminado o ritual, os monges depositam uma quantidade tão grande de lótus sobre os pés de Buda que quase soterram a imagem sagrada.

Esse cenário religioso permeia milhões de pessoas de vários países asiáticos que, assim como os monges, também crêem que o mantra do lótus tem a capacidade de transformá-las em seres puros e iluminados, como o próprio Buda. As palavras sagradas deste canto estão gravadas nas bandeiras, nos sinos que alertam para as cerimônias, em artigos como anéis e pulseiras e nos enormes moinhos de orações, girados nos templos pelos toques das mãos dos fiéis. Assim sendo o aroma do lótus im-pregna o Tibete, a Tailândia, a Índia, o Butão, a Indonésia e a China. Por esse motivo, é raro encon-trar um país da Ásia onde o lótus não seja considerado sagrado.


O lótus no budismo


Nas pinturas tibetanas, linhagens de budas e homens santos aparecem flutuando sobre as flo-res de lótus - uma representação dos tronos da suprema espiritualidade. Nas escrituras budistas, no Tibete, conta-se que, milagrosamente, o pequeno Buda já podia andar ao nascer e que, a cada passo que a criança "iluminada" dava, brotavam flores de lótus em suas pegadas - uma das supostas assina-turas de sua origem divina. Hoje, muitos monges e fiéis desta religião visualizam esta mesma cena enquanto caminham, imaginando que flores de lótus surgem debaixo de seus pés. Com esta prática acreditam estarem espalhando o amor e a compaixão de Buda, simbolizados pela flor.

O budismo afirma que Sidarta Gautama (nome histórico de Buda), possui olhos de lótus, pés de lótus e coxas de lótus. O guru que introduziu o budismo no Tibete é denominado Padmasambha-va, que significa "aquele que nasceu do lótus".


O lótus no hinduísmo


Na Índia, a planta está relacionada com a criação do mundo. De acordo com as escrituras in-dianas, foi do umbigo do deus Vishnu que teria nascido uma brilhante flor de lótus, e desta teria sur-gido outra divindade, isto é, Brahma, o criador do cosmo (o Universo).

Nas gravuras indianas, deuses costumam aparecer em pé ou sentado sobre a flor. Isto ocorre com as representações do deus elefante, Ganexa de Lakshmi - a deusa da prosperidade - e de Sei-va - o destruidor. Também existe a crença de que o conhecimento espiritual supremo é comparado ao florescimento de uma flor de lótus na cabeça.

O lótus também é essencial para a prática da ioga. Assim, como não se pode conceber hindu-ísmo sem ioga, não se pode conceber ioga sem o lótus. A ioga é uma das práticas basilares do com-pêndio doutrinário hindu e "representa o caminho seguido para se perceber o Deus interior". Desen-volve-se por meio de práticas avançadas de meditação que requerem a observância de uma posição específica do corpo, mormente a posição sentada, denominada "padmasana" ou "postura de lótus", na qual os pés são colocados sobre as coxas do lado oposto. Acreditam que a posição do lótus "pro-picia" o aumento da consciência interna e induz a calma profunda se o praticante associar à postura a filosofia da ioga adequadamente.

Pegando uma "carona" nas crenças hindus, os esotéricos não deixam de dar a sua contribuição com uma parcela de significados "espiritualistas" à flor. Estes crêem que a flor, vista de cima, infere uma idéia de interiorização, introspecção e centralização. Vista de perfil, demonstra a postura de um iogue sentado com um raio de luz emanando dele.


O lótus na mitologia egípcia


No interior das pirâmides e nos antigos palácios do Egito, o lótus também é representado co-mo planta sagrada, pertencente ao mundo dos deuses. A exemplo da crença indiana, sua flor teste-munha a criação do Universo. Um dos mais interessantes relatos da mitologia egípcia sobre a origem de nosso planeta conta que, num tempo muito distante, quando o Universo ainda não existia, um cá-lice de lótus, com as pétalas fechadas, flutuava nas trevas. Um relato que faz lembrar a declaração bíblica, que diz: "E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas" (Gn 1.2, grifo do autor). Entediada com o vazio, a flor pe-diu ao deus sol, Rá (uma divindade andrógina, simultaneamente masculina e feminina), que criasse o Universo. Com a criação, a flor, agradecida pelo desejo realizado, passou a abrigar o deus sol em suas pétalas durante a noite, de onde ele sai ao amanhecer para iluminar a sua criação.


O lótus e o sexualismo chinês


Já a interpretação dos chineses é um tanto quanto exótica. Associam a flor ao órgão genital feminino.

Segundo informam os pesquisadores franceses, Jean Chevalier e Alain Cherbrant, no livro di-cionário de símbolos, na China antiga não havia elogio melhor para uma cortesã do que ser chamada de "lótus de ouro". Explica-se assim porque entre os chineses a planta é associada ao nascimento e à criação. Mesmo assim, o lótus não deixa de contribuir para a tradição religiosa daquele país. A deusa do amor e da compaixão, Kuan Yin - a mais venerada entre as divindades chinesas femininas - é representada com flores de lótus ainda fechadas nas mãos e nos pés. Como o botão da flor tem o formato de coração, os fiéis acreditam que a planta teria o dom de aflorar os sentimentos amorosos. Os chineses acrescentam ainda outras qualidades preciosas ao lótus. Segundo eles, a haste dura sim-boliza a firmeza, a opulência das sementes estaria relacionada à fertilidade e à prosperidade, e as fo-lhas - como nascem juntas - indicariam felicidade conjugal. O passado, o presente e o futuro tam-bém estão simbolizados, respectivamente, pela flor seca, pela flor aberta e pela semente que irá ger-minar.

Além de tudo isso, segundo a medicina chinesa, a planta é consumida principalmente como chá, por possuir qualidades terapêuticas que vão desde a cura de doenças renais e pulmonares até o combate do estresse e da insônia.


Práticas antibíblicas que envolvem o lótus


Como ficou demonstrado nesta matéria, para alguns a flor de lótus é muito mais que uma simples planta, é um símbolo sagrado. É freqüentemente associada às divindades orientais e conse-qüentemente é do mesmo modo reverenciada como sendo inerente ao "divino". Entretanto, os cris-tãos, obviamente, não devem nutrir qualquer espécie de repulsa pela flor, mesmo porque isso seria ilógico diante do relativismo de significados nela contidos. Apenas temos de enquadrá-la na sua ver-dadeira posição. Ao contrário das crenças hindu e egípcia, a única parte cabível ao lótus na verdadeira criação divina ocorreu quando Deus criou toda a flora no terceiro dia da criação: "Então disse Deus: cubra-se a terra de vegetação: plantas [entre elas o lótus] que dêem sementes [...] E assim foi" (Gn 1.11; grifo do autor). Nada mais além disso!

Atribuir qualquer espécie de poder espiritual a objetos inanimados é uma forma de animismo. O lótus não tem o poder de "transformar as pessoas em seres puros e iluminados", pois o único que tem esse poder é Jesus: "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo" (2Co 5.17). Eis aí a verdadeira transformação! Igualmente, as associações da planta com as "pegadas do pequeno Buda", o umbigo de Vishnu e outros absurdos não passam de folclore religioso.

A ioga e o mantra também são claramente condenados pela Bíblia. Se o Senhor censurou a u-tilização de palavras vazias e repetitivas nas orações que supostamente eram dirigidas a ele (Mt 6.7), o que dizer quando tais cânticos são oferecidos a uma planta: "Ó jóia preciosa do lótus"?!

Quanto aos praticantes da ioga, estão-se colocando cada vez mais sob a influência de Satanás. Na Índia, um iogue é tido como um mahsiddha, ou seja, um bruxo, e a prática da ioga, desde a anti-guidade, está relacionada aos poderes ocultos e mágicos. É impossível conceber a recepção das "for-ças do universo" por meio de meditação e exercícios físicos. A Bíblia nos admoesta acerca da saudá-vel meditação: "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai"(Fp 4.8).

(Mais informações sobre ioga, consultar Defesa da Fé, edição nº 37 - Ioga: ginástica, terapia ou religião?).

Como podemos ver, a maior parte da proeminência do lótus está relacionada a práticas antibí-blicas, infelizmente. Embora para muitos o lótus seja um símbolo sagrado, na realidade, em sua es-sência, não é mais do que uma simples planta!


"A planta sagrada"


Origem: Sudeste da Ásia

Família: Ninfeáceas

Porte: Sua haste pode alcançar mais de um metro acima do nível da água.

Período de floração: primavera e início do verão

Flores: Produz flores brancas, cor-de-rosa ou brancas com as bordas rosadas.

Multiplicação: por meio de sementes ou divisão de rizomas

Luminosidade: sol pleno

Curiosidades: Os povos orientais têm esta flor como símbolo da espiritualidade, pois acreditam que ela desabrocha na terra (mundo) somente depois de ter nascido no mundo espiritual. O lótus também representaria a pureza, pois emerge limpo e imaculado do meio de águas turvas e lodosas.

Cultivo: Pode ser cultivado em vasos imersos, tanques de jardim, lagos ou lagoas. Seu cultivo em va-so necessita de duas partes de terra argilosa, uma parte de esterco bovino bem curtido e/ou composto orgânico. Por ser uma planta aquática, dispensa regas.

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